quinta-feira, 14 de abril de 2011

Deus te abençoe

“Deus tenha piedade de pessoas que ... [complete a frase com a atitude do seu desafeto]”.

O que a pessoa queria dizer mesmo era “Que Deus pese Sua mão nessa infeliz e arrase com ela”. A falsa piedade é algo que corrói. Que diferença faz uma pessoa dizer “eu sei que ele me traiu, que Deus cuide dele” e fingir que está tudo bem enquanto podemos ver escorrendo rancor entre dentes? Não seria, inclusive, mais saudável a pessoa dizer “eu não acredito que isso aconteceu, não sei como lidar com isso, estou com raiva, quero entender algumas coisas para tentar fazer essa raiva passar”?

Penso que a tendência é um colapso em massa. Nessa onda do politicamente correto não se pode mais nem dizer que o dia está feio que já aparece alguém questionando com frases como: “dê valor à luz do Sol, e muitos que não podem ver?” Ou “Dê graças a Deus pela chuva, e muitos que morrem de sede? Ou “Feio segundo quem?”.

E, salvo coisas ridículas que pessoas pensam, não gostar de coisas, ter raiva, ficar inconformada com certas situações são coisas naturais. E necessárias, muitas vezes. Os sentimentos, em sua maior parte, são involuntários, o que se faz com eles é que não é. A atitude é (devia ser) algo mediado pela racionalidade. Sentimentos mediados pela razão, não abafados pelo convencionalismo social.

Tão hipócrita quanto se esconder atrás dessa vingança como bola de fogo divino em forma de piedade, é fingir que não quer, uma vez que fosse, uma retratação.

domingo, 27 de março de 2011

Da Bethânia

Sim, legalmente está tudo certo a Bethânia pegar o dinheiro. Mas é ético?
Quem já tem milhões precisa mesmo de mais?
Não quer devolver à sociedade os benefícios que a fama garantida por essa mesma sociedade lhe trouxe, como fazem os mais evoluídos? Pois essa devolução tem que ser do próprio bolso, não pegando (de novo) do povo.
Mas é mesmo um povinho besta - o que se há de fazer? - esses que se locupletam.
Cansativo, banal, mesquinho, pequeno, emburrecedor.
Por que não nos levantamos, não fazemos nada?
Porque estamos no reino das banalidades, das falsas aparências, dos amigos que traem. Ainda vamos ser chamados de bravos e chatos, os que reagimos.
Estamos sob o domínio da pelegada.
Minha geração já brigou, foi presa, torturada e até morreu por causa de ideais. Olha só o que o povo pôs no poder.
Bem que Deus disse (sic): "Você vai ver só o povinho que eu vou pôr lá".
Amém!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Tirando a Maria da cruz

Dona Maricotinha anda com problemas. Tem gente na internet que anda linchando a (na minha opinião) parte boa da família Veloso por conta de um blog beneficiado pela Lei Rouanet, autorizado a captar R$ 1,3 milhão de reais. Como brasileiro sabe ler direitinho, conhece a legislação e tudo mais, a coisa se agrava: há quem ande acusando Maria Bethânia de assaltar os cofres públicos para colocar uma página na internet.

Vamos primeiro à parte legal da coisa: Maria Bethânia foi autorizada pelo MinC a captar junto à iniciativa privada os 1,3 milhão. Quem doar, pode rebater o valor doado em até 6% (pessoa física) ou 4% (pessoa jurídica) de seu imposto de renda. Considerando que o imposto de renda é a maior maquininha de fazer dinheiro da Receita Federal, e que eu particularmente não sei em qual buraco negro ele vai parar, estou pensando em doar 6% de meu IR para o Blog da Bethânia esse ano.

Aí há quem vá dizer: mas na prática incentivo fiscal e patrocínio governamental são a mesma coisa. Não são, não. Ano passado a arrecadação federal bateu recorde: R$ 805 bilhões de reais, o que significa um aumento módico de R$ 107 bilhões com relação a 2009. Ainda assim, buracos em uma rodovia federal detonaram os amortecedores e braços de direção de meu carro, eu não tive coragem de colocar os pés num hospital público quando fiquei doente, e a Plataforma Flutuante de Humaitá (AM) - inaugurada inacabada por 40 políticos, entre eles a atual presidenta -  afundou antes mesmo de entrar em operação, por pura incompetência do governo federal. Isso pra ficar nos exemplos "feijão com arroz", pois tem coisa muito pior por aí.

Muito bem, argumentado sobre o que significa a autorização, vamos ao projeto em si:

Andrucha Waddington será o produtor dos vídeos, 365 ao todo, e dizem por aí que isso encareceria o projeto. Então, voltemos à quarta série, e vamos fazer uma continha de matemática básica: 1.300.000 / 365. O resultado será R$ 3.561,64. Vamos partir da ideia burra de que todo o valor do projeto seja para pagar apenas os vídeos. Para fazer um vídeo são necessários equipamentos, figurino, cenário, edição e etc e, lógico, o pagamento do diretor e da equipe de filmagem. Considerado isso, Maria Bethânia já poderia ser aclamada a turquinha do agreste. Acontece que ainda existe alguém que vai fazer a página da web, e não existe almoço grátis. Isso faz da Maricotinha uma matriarca turca-baiana.

Aula básica de tributação, legislação e matemática dadas, vou ao meu verdadeiro incomodo: a precipitação nacional.

O fato de ser "só um blog", parece ter incomodado grandemente a população nacional de... internautas! Curiosamente, surgiram diversos protestos levando Maria Bethânia aos Trend Topics do... twitter! Todo mundo sabe que o twitter nada mais é que uma ferramenta de microblogs. Sem contar com protestos no Facebook - aquele que levou dois de seus donos a se tornarem os mais jovens bilionários do mundo. Não fossem as coisas boas, eu odiaria a internet, pelo simples fato dela ter feito de Justin Bibier um ícone pop adolescente.

Me parece um contra senso as pessoas menosprezarem o blog da Maria Bethânia por seu preço - comprovadamente módico -, ao mesmo tempo que validam o enriquecimento precoce de um pirralho de talento duvidoso através do mesmo veículo de comunicação e interação social. Isso sem entrar sequer no mérito da pessoa envolvida: Maria Bethânia é uma das melhores interpretes da MPB, que além de um simples "estilo musical", pode ser considerado um movimento cultural, e foi por muitos anos a única ferramenta de protesto dos civilizados e pacíficos contra nossos anos de chumbo. Essa mesma MPB corre risco de morrer por inanição, graças à grande massa de aculturados que ficam por aí ouvindo Luan Santana e Chiclete com Banana, ao invés de prestar atenção às Maria Bethânias da vida.

Então, deixo meu recado aos reclamantes:

Querido internauta acéfalo, entenda: não é porque seu pai paga a internet que você usa, que ela sai de graça para todo mundo. Internet é um negócio de bilhões, é a grande vitrine de exposição de todo tipo de mercadoria - inclusive você mesmo.

My two cents.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A morte e o medo

A postagem da Dai me fêz lembrar de algo que lí hoje: falta de medo mostra-se, na verdade, ao termos coragem de sermos de verdade quem somos. Com os nosso erros, nosso passado, nossas angústias, nossas dúvidas, nossas encrencas, nossas antipatias, nosso chulé, nosso mau hálito.

Por que lembrei disso? Porque é tudo medo: medo de sermos quem somos, medo da dor, medo da morte. E sugiro termos coragem de sermos quem somos mesmo com o medo, da morte ou do que quer que seja. Não é fácil, mas também não é impossível. Difícil é passar a vida cansado tentando ser quem não é. Sendo acuado, com medo de ser descoberto.

Imaginemo-nos como os cachorros nos vêem. Eles nos percebem exatamente como somos. Cachorros não entendem as regras sociais, não lêem o resultado da camada fina de etiqueta que aprendemos a mostrar. Eles nos enxergam pelo que fazemos, sentem o cheiro do que somos por dentro, e aceitam apenas isso, esperam apenas isso de nós. Meio chato mas tão realista. Quando cachorros cheiram agressividade em nós, eles não tem nenhum jeitinho de disfarçar isso socialmente. Eles atacam. É o pragmatismo canino.

Nós também, animalmente, percebemos na verdade quem o outro é. Muitas vezes não queremos que seja, não queremos ver, fingimos e gastamos uma energia enorme fingindo não ver, mas nosso corpo sabe.

Sob minha lente (imitando a Dai - adorei a chamada ao blog, Dai), na minha experiência, cada vez que eu abro mais e mais o que me vai dentro da alma, a reação dos outros - quando são bons - é similar. Eles também se abrem.

Se não se abrem, puff!, automaticamente estão mostrando que de fato não são de confiança. Um bom jeito de filtrar o pessoal do bem.

Então com medo e tudo, convido nossos fiéis e teimosos leitores a escancarar o medo. Vamos nos identificar por aí.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Esperando a morte chegar

O ser humano é uma figuraça ímpar!
Todo mundo segue uma linha, uma ideologia, ou pelos menos tenta. Ou pelo menos passa a impressão de que sabe alguma maneira de conseguir alguma coisa, qualquer coisa, todas as coisas.
Quando vira o ano e nos preenchemos de metas e objetivos, reforçamos a ideia de que temos uma diretriz. Sabemos exatamente o que fazer para nos tornarmos melhores e mais eficientes perante os próprios seres humanos.
Isso, contextualizado com o estilo de vida de cada um, pode até parecer coerente, afinal, os tempos são outros e, se ficar o bicho pega e se correr o bicho come. Uma loucura.

Mas será que se tirarmos esse contexto frenético conseguiríamos idealizar um caminho mais humano, natural e que objetive o bem do coletivo e não apenas o de sua atual conjuntura individual?

A única e incontestável verdade é que iremos morrer. Você que lê esse texto, você vai morrer! Não fique triste, nem irritado, eu não tenho nada a ver com isso, mas você vai morrer, assim como qualquer outro. E qualquer outra maneira de enxergar a morte que não seja com naturalidade representa algum problema em encarar a realidade.
Sejamos maduros, e vamos brincar de viver. Vamos fazer filhos, não evitar filhos. Eles serão seu principal projeto, serão sua melhor jogada financeira, e aquele que oferecerá mais retorno. Não se limite em um, o filho é a sua única ligação com o futuro, seu maior feito, e o que vai deixar sua maior marca nesse mundo.
Sejamos maduros, e vamos brincar de morrer. A ciência nos faz acreditar em um prolongamento de nossas vidas, mas não somos eternos, e mesmo assim ainda fazemos questão de ignorar a única verdade incontestável sobre a vida, nossa morte.

Sob a minha lente, o velório tinha que ser como festa de 15 anos, onde se passa as fotos do falecido num telão, todos aplaudem na entrada e se emocionam na dança, a despedida.
Temos que entender que triste não é morrer, mas sim subjugar a vida, sem ser você mesmo, sem arriscar, se privando de atividades prazerosas, se privando de ter filhos, se submetendo a trabalhos infelizes, amizades superficiais e relacionamentos vazios. E essa realidade está se tornando mais comum do que panfletagem em época de eleição. Uma catástrofe.
Agindo assim, desperdiçando nossas vidas com sentimentos incompletos e sem seguir nossos instintos, não viveremos, e sim estaremos fadados a só esperar a morte chegar, sem tirar nem por.