“Deus tenha piedade de pessoas que ... [complete a frase com a atitude do seu desafeto]”.
O que a pessoa queria dizer mesmo era “Que Deus pese Sua mão nessa infeliz e arrase com ela”. A falsa piedade é algo que corrói. Que diferença faz uma pessoa dizer “eu sei que ele me traiu, que Deus cuide dele” e fingir que está tudo bem enquanto podemos ver escorrendo rancor entre dentes? Não seria, inclusive, mais saudável a pessoa dizer “eu não acredito que isso aconteceu, não sei como lidar com isso, estou com raiva, quero entender algumas coisas para tentar fazer essa raiva passar”?
Penso que a tendência é um colapso em massa. Nessa onda do politicamente correto não se pode mais nem dizer que o dia está feio que já aparece alguém questionando com frases como: “dê valor à luz do Sol, e muitos que não podem ver?” Ou “Dê graças a Deus pela chuva, e muitos que morrem de sede? Ou “Feio segundo quem?”.
E, salvo coisas ridículas que pessoas pensam, não gostar de coisas, ter raiva, ficar inconformada com certas situações são coisas naturais. E necessárias, muitas vezes. Os sentimentos, em sua maior parte, são involuntários, o que se faz com eles é que não é. A atitude é (devia ser) algo mediado pela racionalidade. Sentimentos mediados pela razão, não abafados pelo convencionalismo social.
Tão hipócrita quanto se esconder atrás dessa vingança como bola de fogo divino em forma de piedade, é fingir que não quer, uma vez que fosse, uma retratação.