terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Julgador

Se, no intuito de se comunicar com os outros o sujeito busca sempre a justiça, e de forma equilibrada, trata a todos com igualdade esteja onde estiver, este se torna um Julgador.
Se, obtém a sensação de não agir com preconceito, privilégios ou favores especiais, e toma decisões que devam passar pelo crivo de sua lógica atendendo aos seus parâmetros de justiça, este se torna um Julgador.
O ato de julgar vai muito além de uma expressão pejorativa, algo que evitamos fazer, algo que evitamos tornar explícito. Parece contraditório, não?

O sentimento de tratar as pessoas com igualdade se mistura com o sentimento de estar julgando esta mesma pessoa a cada segundo. Afinal de contas, a igualdade estaria fundamentada em quê? E a justiça? Acredito que tudo isso seja obra de nossas mentes acostumadas, vividas, lapidadas e até mesmo maliciosas, porque não!? Acostumadas a tirar conclusões, por fim, julgar.
Nos tornamos amadurecidos e preparados julgando, nos tornamos espertos e eficazes julgando, nos tornamos sociáveis e populares julgando.

Demorei a aceitar, mas me dei conta que me tornei um Julgador, um grande Julgador, e eu mesmo procurei por isso.
Na verdade, pra livrar o meu lado, defendo a idéia de que o ato de julgar, aquele recriminado pela Igreja, e o ato de julgar que estou falando, calcado em conhecimentos e aprendizado anteriores, deveriam receber palavras diferentes. Deveria ser: julgamento irracional X julgamento racional. Afinal de contas, se o intuito é usar de justiça e falta de preconceito ao tratar as pessoas, não pode ser tão ruim, certo?
Mas mesmo assim, ainda me bate um sentimento de poder estar fazendo a coisa errada.

Com anos e anos de prática, não poderia deixar de analisar se minha própria caixa de ferramentas julgadora esta afinada. Acho que é porque no fundo, eu me sinta mal por exercer tão plenamente esse hábito, e tento chamar de racional.
Essa grande ferramenta me deu avidez, me deu uma visão apurada das pessoas, das coisas, do sistema econômico, do meio ambiente, e até mesmo de pequenas ações. E o perigo esta exatamente aí, no momento que nos achamos capazes e preparados para escolher o livro pela capa, passa a barreira do racional.
Nós julgadores, precisamos de constante manutenção, a cada 5000 julgamentos, recebendo injeções de humildade e autocrítica, para não cairmos na besteira de achar que as coisas estão todinhas mapeadas, como o nosso julgamento racional nos ensinou.
Daí a verdadeira virtude do julgador, saber controlar seus impulsos e, constantemente revalidar seus critérios, nunca subestimando seus erros, pois, o tempo passa, as pessoas amadurecem, as coisas evoluem, e se não ficarmos atentos o tempo todo, em algum momento estaremos deixando de ser um julgador racional para nos tornarmos um julgador irracional – prepotente - e, do ponto de vista de um Julgador reflexivo compulsivo, um grandessíssimo idiota. (rs, não me veio outra palavra à mente.)

Portanto, bom dia a todos e bons Julgamentos para o resto da semana!

2 comentários:

  1. O equilíbrio é sempre uma dificuldade mesmo. Mas você tocou num ponto fundamental mesmo, não existe neutralidade, mesmo quando a gente, teoricamente, não está exercendo nenhum juizo sobre algo ou alguém, a gente, de um modo ou de outro, acaba mantendo ou reforçando alguma opinião que já tinha (seja a de não ter nenhum interesse sobre a coisa julgada). Acho que é um perigo ser um julgador irracional, inconsequente, que sempre acha que as cartas do jogo estão viciadas e que conhece todas as jogadas, como você disse, é querer julgar o livro pela capa. Um ato infantil, claro.

    Mas como ter essa injeção de autocrítica e humildade?

    beijo

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  2. Acredito que o caminho é ser sensível ao mundo exterior, perceber a reação dos outros em relação as suas atitudes (autocrítica) e aprender com os erros (humildade), enfim, não se fechar em suas próprias convicções.

    bj

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