Impossível não continuar falando de política nessa fase. Desculpem a overdose. Falta pouco para as eleições, e esse é o momento para quem sabe, através de saturar os sentidos, regurgitar serenas decisões para o momento da urna.
Que momento esse, não? Que nome pôr? Quem se salva? Lembro-me de uma eleição – em 1986, uma das primeiras abertas no final da ditadura - quando Antônio Ermírio de Morais foi candidato ao governo do Estado de São Paulo. Eu sempre confiei nele. Achava-o um desses baluartes brasileiros de integridade e eficiência, alguém que tem muito a – e pode - contribuir para trazer o país ao desenvolvimento que ainda acho ser sua vocação. Mesmo considerando o fato dele ser um empresário, o que sem dúvida o coloca dentro do grupo que precisa fazer e aceitar algumas iniqüidades para sobreviver, ainda assim suas declarações foram sempre brutalmente honestas, do tipo “doa a quem doer”, sérias, responsáveis, cívicas (essa é a palavra!) de alguém que não precisava agradar ninguém. E mesmo assim – sem precisar agradar ninguém - suas indústrias progrediam e ele multiplicava empregos aos seus concidadãos. Em entrevistas daquela época, o Ermírio não se esquivava de compartilhar a bandalheira que era o jogo político. Para minha tristeza ele perdeu aquelas eleições para Orestes Quércia, e São Paulo perdeu o governador que merecia.
Tem sido assim, uma sequência de decepções a história política brasileira com raríssimas exceções. Fiquei muito orgulhosa, por exemplo, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente do Brasil. Estava fora do país nessa época, e vivia na pele o preconceito contra nossa cultura populista, relaxada, a cultura da bebidinha, da prainha, do sambinha, das mulheres eternamente seminuas retratadas nas praias brasileiras, a cultura dos brasileiros sempre atrasados, sempre dando e pedindo “um jeitinho”, a nossa política sempre pendendo, saindo de, ou quase entrando numa ditadura... De repente temos um professor doutor na presidência, alguém que causou ótima impressão no Exterior, e elevou a confiança dos estrangeiros no Brasil. O homem que plantou todas as sementes e os programas que o analfabeto atual se apropriou desavergonhadamente, enquanto carrega o Brasil para a humilhação pública internacional ao se aproximar de ditadores, assassinos travestidos em governantes (Hugo Chavez, Fidel Castro, e Ahmadinejad, entre outros).
Agora de volta ao Brasil, preparando-me para votar após quinze anos de ausência, pergunto-me onde estão aqueles conterrâneos que elegeram Fernando Henrique? Deve ter tido alguém com bom senso então. Claro que então havia um candidato, ao contrário de agora quando, tirando do páreo desde já a pilantra da Dilma, dá medo de que o Serra possa estar imerso além da salvação no jogo das fantasias e comprometimentos políticos, a Marina tadinha, pouco pode prometer ou fazer com seu discurso verde comprometido com uma religião de grande tendência manipuladora, enquanto o Plínio vem com aquele discurso amalucado comunista...não sobra ninguém.
Pois aqui vai uma sugestão: e se todos nós, com bom senso no coração, votássemos no Fernando Henrique? Que importa ele não ser candidato? Talvez se todos votarmos nele mostraremos que ainda existem mentes críticas e independentes no Brasil, ainda existem aqueles que acreditam na decência, na educação, no preparo, na visão de fundo, naquele que foi o melhor presidente que tivemos até agora. Mostraremos que não somos bobos, manipuláveis marionetes, que não temos que nos conformar com cafagestagem. Não estou dizendo que o Fernando Henrique foi perfeito. Mas chegou perto.
Pronto. Taí! Está lançada a candidatura popular do Fernando Henrique Cardoso. Meu voto é seu, professor!
Eu não gosto do Serra, acho que nessas propagandas eleitorais ele tem mostrado como o que o sustenta é frágil. O partido o escolheu pq ele tinha mais 'histórico' com o povo, mas agora ele tenta mudar ou transformar sua história em outra coisa, quer virar um Zé, só se for Mané. Acho uma bobagem recorrer a esse joguinho do "eu vim do cafundó do Judas e venci", achando que ter uma origem humilde legitima alguma coisa. No Brasil é muito assim mesmo, se a pessoa vier da classe média não vale nada, pra pessoa ter consciência política ela ter que ter 17 irmãos e ter passado fome por 2 anos seguidos, pelo menos. Uma bobagem. O que está por trás desse discurso? Quer dizer que por eu não ser negra eu não posso me engajar nessa luta? Por não ser homossexual eu não posso achar válido a luta por direitos igualitários? Enfim, existe tanta bobeira sendo proclamada aí sob a máscara de 'intelectualismo', que qualquer início de discussão parece perda de tempo.
ResponderExcluirDesculpe, fugi um pouco da sua abordagem. Mas é que ando brava com as atitudes marketeiras do Serra ¬¬
Queria comentar antes, mas o post merecia mais tempo e atenção.
ResponderExcluirHomens como Ulysses Guimarães, Antônio Ermírio e Fernando Henrique parecem extintos. O primeiro morreu, ouvi dizer que o segundo está levemente senil, e o terceiro aposentou-se.
Você, que viveu fora, talvez tenha visto em algum lugar um livro não publicado por aqui: The Accidental President Of Brazil. Assim como tantos outros.
Enquanto isso, o melhor que Lula conseguiu sobre si foi o satírico "Nunca Antes Na História Desse País", de Marcelo Taz, que também está em minha biblioteca.
Nos tornamos uma nação-circo, que acredita na "Noruega Tropical" inventada por Lula. Como disse em outras palavras, é uma triste constatação, mas a grande maioria forma sua opinião política assistindo meia hora diária de horário eleitoral durante dois meses, ou nem isso.
Fernando Henrique é digno, honrado, e a falta de consideração por um dos melhores estadistas (se não o melhor) desse país, mostra apenas a natureza estreita, imediatista e cega de nosso povo.