Falarei aqui sobre o caráter dos indivíduos e sobre o moralismo arraigado na cultura nacional.
Quando surge a palavra "corrupção", lembramos daqueles políticos safados que vêm a Brasília de terça a quinta-feira realizar uma encenação "pra brasileiro ver", supostamente decidindo o futuro da nação e discutindo assuntos de interesse público. Para a conveniência dos homens comuns, associamos a corrupção aos poderosos e seus círculos de relacionamento. No entanto, "corrupção" é uma palavra que partilha sua origem com "corromper". Talvez daí venha o famoso e infame ditado: "O poder corrompe".
Será?
Do alto de nosso chauvinismo e confortavelmente acomodados em nossa moralidade, reservamos a sujeira aos senhores engravatados, muitas vezes distantes de nossa realidade cotidiana, e dizemos que eles, talvez antes pessoas "de bem", seduzidos pelo poder se tornaram novos seres, de índole duvidosa e muitas vezes dispostos a barganhar qualquer coisa e utilizar toda sorte de recurso em benefício próprio. Há ainda aqueles que, para alívio de consciência, dizem que todo mundo tem um preço, o que, na prática, seria dizer "eu no lugar dos corruptos, caso fosse bem pago, faria o mesmo, e qualquer um no meu lugar faria o mesmo".
Em contra partida, na cultura pop, existe o não muito divulgado "Code of the Sith", do universo expandido de Star Wars. Escrito por Darth Bane, um Lord Sith calejado pela vida o suficiente para se tornar um sético, o Código dos Sith mostra uma visão muito mais honesta sobre a relação entre o indivíduo e o poder:
A paz é uma mentira, existe apenas a paixão.
Através da paixão, adquiro força
Através da força, adquiro poder
Através do poder, alcanço a vitória
Através da vitória, minhas correntes se partem.
A força me libertará.
Paixão (passion), no caso, não se refere à afetividade, mas à busca de um objetivo com afinco, motivação, vontade: se há paixão no indivíduo para buscar uma determinada coisa/objetivo, ele consegue a força para fazê-lo, e assim segue o raciocínio do Código. Então, vem a comparação: de acordo com o ditado, o poder corrompe; de acordo com o Código Sith, o poder liberta. Ulysses Guimarães sabiamente disse que "O poder não corrompe o homem. O homem corrompe o poder".
Então, será que o poder de fato corrompe, ou os grilhões partidos pela vitória seriam justamente a imagem pública, moldada para ocultar um caráter torpe e sem princípios?
Será que aquele colega de trabalho "gente boa" foi corrompido após a promoção e se tornou outra pessoa, ou após ser revestido por algum poder deixou para trás a imagem cuidadosamente esculpida enquanto estava um degrau abaixo? Não há a corrupção, mas a liberdade da máscara de subalterno, a evidência da verdadeira índole. Na segurança do poder, do mandar, desmandar, influenciar e decidir, o indivíduo se desprende das articulações necessárias anteriormente.
Na tendência universal de preferir culpar um mal invisível a admitir nossas próprias falhas, nós, as pessoas, nos cercamos de falsos conceitos, dizendo que não, nosso caráter não é ruim, mas as circunstâncias o modifica. Transformamos situações em males invisíveis, vilões, nos eximindo de toda e qualquer culpa. Transferimos ao imaginário a responsabilidade por nossas falhas, sujeiras, e nosso "lado negro". Lado negro, aquele, que se torna claro e ativo num primeiro momento de segurança.
Criamos muletas, escudos e esconderijos. Classificamos toda a humanidade como volúvel , para justificar uns e outros. Ao final, dizemos que somos todos feitos de uma mesma farinha rala e fraca, ignorando os exemplos gritantes de homens bons e justos que, ao contrário de outros, não corromperam o poder, nem se colocam em situação de vítima numa falta de vergonha gritante.
Os bons, os justos e os corretos nativos, e não por imposição circunstancial: por que colocá-los no saco dos que se vendem? Por que nos encolhemos e acatamos como verdades as desculpas esfarrapadas? Seria para justificar a preguiça da massa de buscar a mudança? A nossa própria preguiça?
Para finalizar, um verso de Tom York:
"When I am king you will be first against the wall"
"Quando eu for rei você será o primeiro contra a parede"
O homem corrompe o poder mesmo.
ResponderExcluirMas eu nem tento mais justificar minha preguiça, herman... Eu quase tenho orgulho dela! kkkk
Smacks
Ó, e nem precisa de poder, não é? O dia a dia está aí para mostra que não. É o troco a mais que não voltamos, a vaga de estacionamento para pessoas com deficiência que a pessoa usa, o sinal vermelho que ultrapassam, enfim, sobram exemplos. Sem contar que certas pessoas se sentem justificadas: todo mundo faz! E entramos nesse efeito dominó (com cores viciadas) sem fim.
ResponderExcluir=*
Gostaria que o "exemplo gritante dos homens bons e justos" falasse um pouco mais alto, fosse mais visível, e mais numeroso.
ResponderExcluirOu devemos nos conformar que os "bons mesmo" são nada mais que uma pequeniníssima tribo? Ou então cedemos para o ceticismo?
Gostei da sua reflexão!