quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Me sacrifico por você! (não quero!)

"Em uma relação a gente tem sempre que se sacrificar". Essa frase é muito divulgada e bastante aceita, mas apesar de entender perfeitamente o que as pessoas, em sua maioria, querem dizer com ela, eu, realmente, não consigo concordar.

Primeiramente, quase ninguém deve levar em conta o contexto de ‘sacrifício’. Quem sacrifica, sacrifica outra coisa simbolizando a si mesmo. O sacrifício, em si, é símbolo, alegoria (excetuando Jesus, que teria SE sacrificado pela humanidade, e alguns outros casos raros, o sacrifício é sempre do ‘objeto’ representando o sujeito, e não o contrário).

Portanto, quando alguém diz que está ‘se sacrificando’ o que eu penso imediatamente é: "o que essa pessoa está sacrificando?" uma vez que não pode ser ela mesmo, mas algo que a representa.

Depois dessa primeira pergunta "sacrificando o que?", o que vem em seguida é: quanto isso vale pra ela? Se for alguma coisa superficial, não é sacrifício porque sacrifício está ligado a dor. Se for vital, a questão é: sendo vital, quanto tempo você poderá subsistir sem o elemento sacrificado?

Outro ponto interessante é que o sacrifício não é esse sinal de altruísmo todo como comumente as pessoas pensam, o sacrifício é um ato egoísta, é feito em benefício próprio! Todavia, a grande charada é que o sacrifício não é feito nem em pró de um e nem em pró do outro, mas da relação. Isso seguradamente modifica a visão da coisa e aí sim a pessoa que chama a si a responsabilidade de ser sacrificado ganha enlevo. A relação sacrifica os outros em benefício próprio, e pode haver um apagamento tão grande da pessoa sacrificada que quando a relação se for ela não será mais nada: apenas uma mancha de sangue no altar.

Acho que sacrifício é uma palavra mal empregada e obsoleta, dada a época, e a frase uma balela. Não tem que sacrificar nada. O que você é, o que tem de bom não deve ser mudado, agora excessos podem - e devem - ser retirados, mas isso não é sacríficio, é lapidação. Quando alguma coisa é identificada na relação e precisa ser mudada, não tem que ser com essa nuance de “sou mártir”. Se for algo que é essencial à sua formação, não pode ser mudado. E o que precisa ser mudado não é sacrifício, é investir na relação.

9 comentários:

  1. Dai,

    definitivamente vc me convenceu!
    lapidação é a palavra!
    uehehehe

    =D

    Bjo!

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  2. Se o sacrifício for considerado uma atitude de sofrimento próprio atingindo a própria dor da alma visando o interesse de ser reconhecido apenas pela pessoa que se ama (situação presente em 90% dos "sacrificantes"), esta auto-flagelação moral pode ser chamada também de paixão. Pois a "Paixão" não difere muito do sofrimento por amor, a pessoa apaixonada por outra não faz muito além do que sacrificar os próprios costumes, que antes lhe faziam bem, para que a pessoa que lhe convém acredite que demasiado sacrifício fará valer a pena uma eterna união. Motivado por conhecimento calçado no empirismo não aprovo também tal comportamento emotivo. Mas é veraz que o fato acima acontece nas melhores famílias.

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  3. Dai, que contundência tão certa! Repito-me: não é bom se há que sacrificar-se. Prá mim, a melhor metáfora para relacionamentos onde sacrifícios acontecem foi a feita pela personagem "Samantha", de Sex & the city. Kim Catrall explicava para a amiga que se ao pensar na relação você franze as sobrancelhas com dor, preocupação, tristeza, aborrecimento ou "sacrifício", então você não está numa relação agradável. Em relação boa, as sombrancelhas, os olhos, seu corpo, estão sempre sorrindo.
    Muito obrigada pelo seu texto. Como sempre, insightful!

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  4. Dai, eu tenho feito muitas concessões, que às vezes ficam com cara de sacrifício, mas nem sempre. Seja como for, o post me fez pensar. Humm, e isso é bom. Brigadão!!

    Beeeeijossss

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  5. Dai, muito bom!! Eu acho que dependendo do prisma, algumas mudanças oriundas da relação passam a ter cara e significação de sacríficio, o que nem sempre reflete que a pessoa ser considerada um 'mártir'. Eu vejo pelo lado do real significado de alguma coisa na vida da outra, você tem suas hábitos, sua rotina, uma vida inteiramente sua e aí de repente chega alguém e você considera esse ser digno de caminhar ao seu lado, algumas coisas serão realmente modificadas, mas dependendo da forma como você encara, isso pode ser extremamente penoso e digno de ser chamado de sacrifício. Sacrifício no sentido de algo que você oferece em prol do crescimento e permanência daquela relação. Me fiz clara?
    Mas, sim, a sua crítica é extremamente pertinente, é preciso saber até onde se pode abrir exceções, até onde o peso daquilo que você retira ou acrescenta na sua vida pode modificar de forma negativa.
    Em uma relação não pode faltar: bom-senso e amor-próprio, essas duas coisinhas ajudam a compreender os limites pessoais, do outro e da relação sem nos tornar permissivos em demasia.
    Beijos, M.A.

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  6. M.A.

    Se fez super clara sim, e concordo com você. Esse texto foi complicado de escrever justamente porque eu entendo esse lado. Mas é que eu acho que a coisa se torna penosa porque (talvez, é um exercício de relfexão, tá?) a pessoa não ve real necessidade de mudar aqui. Ela faz pelo outro e pela relação, mas não é convencida que deve mudar. Daí o peso. Mas eu acho que o maior poblema em "sacrificar" é que a pessoa quase sempre espera uma reciprocidade: eu abri mão, agora você abra.

    Isso é nocivo.

    Gostei muito de sua visita, fique sempre. Mesmo!

    beijo

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  7. Pena que só fui perceber isso depois de dois anos e meio de namoro.

    Pena não.

    Não me arrependo.

    Mas tenho consciência de que poderia ser diferente.

    Acredito que você seja uma das pessoas que me abriu os olhos. Estava "sacrificando" algo. Sabia disso. Mas fazia vista grossa.

    Grande texto. Direto ao ponto. Objetivo. Bem argumentado.

    Grande abraço e bjo.

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  8. A importância de uma ou outra coisa é sempre relativa.
    Na hora do suposto "sacrifício", a prioridade é sempre a que permanece - no caso, o relacionamento -. Acontece que depois, um dia, as prioridades mudam de novo, e as pessoas vem com essa conversinha chantagista dizendo "oh! me sacrifiquei por vc, e vc não reconhece isso"...

    ¬¬

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  9. é verdade... boa colocação. Mas na prática acho que é exatamente isso que as pessoas querem dizer mesmo. Que tem que haver essa lapidação, isso tem. E alguns acabam tendo que se lapidar mais que outros! rsrs Bjinho!

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