terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ménage à trois

Algumas temáticas sempre foram problemáticas, algumas mais que as outras, é verdade, mas sempre foram. Exemplo disso é tema libido, desejo, vontade, querer o que todos querem e poucos assumem, enfim: a sexualidade.

Atualmente a coisa tem ficado mais escancarada, tenho certeza que alguém já viria me dar como exemplo o funk, mas acontece que eu não considero que virar a mulher pêra, melancia, framboesa, jaca ou carambola demonstre o avanço da mulher em algum aspecto. Diria que até pelo contrário. Assumir que temos desejo e que sim, faríamos várias coisas que as nossas avós desmaiariam se soubesse é verdade. Mas nem por isso temos que andar nuas ou com uma placa: “estou para o que der e vier” e, sobretudo a parte do ‘der’. Assumir a própria sexualidade não quer dizer, de forma alguma, que temos que esfregar nossas peripécias, ou a falta delas, na cara dos outros - digo isso de modo figurado, aliás.

Lembro-me de certa vez que estávamos em um churrasco com pais, mães, cunhados e cunhadas, crianças e amigos (que eram apenas amigos de alguns e não de todos, ou seja, para algumas pessoas elas estavam no meio de estranhos) e uma das cunhadas começou a dizer – em alto e bom tom – o que ela fazia e   fazia (porque não teve quase nada que ela não tivesse feito ou não estivesse disposta a fazer, pelo menos).

O marido da dita pedia para que ela, ao menos, falasse baixo, tinha crianças por perto (filhas de pais evangélicos, por sinal) e que ninguém era obrigado a saber a vida dela. A rainha do sexo respondia que a criança tinha que saber, cedo ou tarde elas, as crianças, iam fazer o mesmo. Todos sorriam sorrisos amarelos e fingiam que estava tudo bem, afinal não seria eles a dizer: “esse assunto não é para este momento”. Imagina? Passar por conservador, retrógrado ou frustrado sexual? De jeito algum. O fato é que se confunde liberdade com libertinagem e as pessoas não sabem o que é adequação, confundem adequação (ou educação) com hipocrisia.

Será? Não acho que você não gritar tudo o que você faz, seja hipocrisia. Em linguística é muito claro o conceito de adequação. Por exemplo, se você estiver em uma entrevista de emprego você fala de um jeito, com uma criança de outro e com seu namorado ou namorada, de outro ainda. O que quero dizer? Simplesmente que você não pode falar para seu supervisor: meu tchutchutchu, como você está fofinho hoje com esse terniiiinho.

Óbvio, não é? Mas as pessoas acham que o que elas fazem entre quatro paredes pode vir ao conhecimento de todos e que quem estiver incomodado que se mude. Não saber o que você faz não muda, você anunciando ou não, já o constrangimento e a possibilidade de as pessoas conversarem sobre o tema (para que muitos preconceitos sejam desfeitos, inclusive) modifica por causa da vulgaridade de alguns.

Para mim, certos tipos de exibição são feitas para reafirmar o indivíduo, a pessoa sente necessidade de 'dizer' o 'quanto ela é boa'. A partir do momento que a pessoa precisa convencer sobre o próprio valor, já há algo errado, ou não?

6 comentários:

  1. Aliás "meu tchutchutchu, como você está fofinho hoje com esse terniiiinho." é coisa que praticamente não se fala a ninguém mesmo :P

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  2. Em minha opinião, se fosse pra ser tão público, não seria feito entre quatro paredes... hehehehe

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  3. Reticente,

    E como pode esse poder de sintese? Resumiu (de maneira melhor, ainda) meu texto em uma frase.

    Aiai

    =/

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  4. Então... eu conheci um mulher assim, namorava um colega meu. Qdo ela começava a conversar, eu tinha vontade de sair correndo!

    Um dia eu perguntei pra ela se ela imaginava pq se chamava essas coisas de "intimidade", mas acho q a ficha dela não caiu!

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  5. Para cada lugar, um linguajar, uma atitude diferente. Meus textos mais picantes? Nem todos os conhecem...

    Beeeijo, Dai!

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  6. Pois é, Dai! Tão verdade - e chato - tudo isso descrito no seu excelente Menage a Trois. Questão: será mesmo que temos que ficar quietos e manter o sorriso amarelo? Será que a pessoa a compartilhar sua sordidez não está intimamente e secretamente pedindo para "ser educada" em público? Sim, sei que não faz parte da nossa cultura corrigir as pessoas, mas esse caso pedia....Seria tão refrescante para todos os presentes se alguém com firmeza dissesse à dita cuja: "Aqui, na presença de todas essas pessoas, você não vai falar essas coisas. Nossos ouvidos não são lixeira, e alguns de nós pode achar ofensivo para o bom gosto o que você está fazendo, além de moralmente agressivo com as crianças. Ou você pára ou vai embora!" Já imaginou que delícia? Mas não falar bravo, com raiva, sabe? Mas calma, adequada, e educadamente. Eu quero ser essa pessoa. (Enquanto escrevo isso escuto o programa do Jô no outro quarto de onde moro. E o ouço mencionando algo como "fazer xixi sem fazer a cara de quem está fazendo xixi..." Me pergunto se essa é uma linguagem adequada e de bom nivel para a TV. A mim parece um pouco xula, de mal gosto....começo agora a ser aquela pessoa e ligo ao Jô ou ao canal de TV para reclamar da falta de bom gosto???)

    Grande texto!
    Ana

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